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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

CAMPANHA DA FRATERNIDADE E OS ADOLESCENTES E JOVENS


O tema da CF deste ano (2014), "Fraternidade e Tráfico Humano", para algumas pessoas ainda parece ser um exagero. Isso se deve a invisibilidade em que esse fenômeno acontece. O Tráfico de Pessoas é muito difícil de dimensionar, pois muitas das suas vítimas são difíceis de serem identificadas e esse “negócio” rende aproximadamente por ano 32 bilhões de dólares segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). As palavras aqui partilhadas fará uma reflexão a partir do texto base da CF-2014.


Adolescentes e jovens como foco das vítimas

Ano passado a CF nos alertou que boa parte das mazelas ligadas a questão da violência e extermínio de jovens recaem sobre adolescentes e jovens do sexo masculino e negros, segundo dados do Mapa da Violência de 2012 no Brasil elaborado pelo Ministério da Justiça. Esse ano a Campanha reforça a Pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que aponta o tráfico de pessoas para trabalho forçado e exploração sexual chegue a 20,9 milhões de pessoas em todo mundo. Destacam-se nessa pesquisa 4,5 milhões (22%) das vítimas são exploradas em atividades sexuais forçadas. Em trabalho forçado em diversas atividades econômicas o índice é de 14,2 milhões (68%) e 2,2 milhões de pessoas (10%) pelo próprio Estado, sobre tudo os militarizados. O que estarrece é que na pesquisa da OIT 11,4 milhões de vítimas, ou seja, 55% são mulheres e jovens, enquanto 45%, cerca de 9,5 milhões são homens e jovens. 



Os aliciadores e os adolescentes e jovens vulneráveis

Nesse tipo de crime devemos estar atentos, pois nossos adolescentes e jovens estão no rol de grande proporção de serem vítimas. Como a vulnerabilidade social é enorme ainda entre muitos adolescentes e jovens são facilmente fisgados por aliciadores que prometem uma mudança de vida ilusória. Ofertas de trabalho irrecusáveis que prometem melhor muito de vida. E qual o adolescente e jovem empobrecido que não quer melhorar de vida? Muitos jovens e adolescentes têm ídolos entre as pessoas públicas como jogadores de futebol, modelos, artistas e de repente são sugados por redes de aliciamento que se camuflam no meio de agências que recrutam para essas atividades e assim enganam adolescentes e jovens com a ilusão de que seus sonhos serão realizados.

Infelizmente, os aliciadores, normalmente, estão entre o grupo de amizades das vítimas ou até mesmo dos parentes e familiares. São pessoas que não apresenta qualquer suspeita. Travestem-se de executivos, de trabalhadores sérios e não deixam margem pra dúvidas de suas condutas. É aí que mora o perigo. Quantas adolescentes são aliciadas em nossos municípios com grandes promessas? 



Exploração de adolescentes e jovens e a cultura 

Muitas vezes até por conhecidos da família que prometem dar casa e estudo na capital, mas muitas das vezes querem alguém para explorar nos trabalhos domésticos e assim não pagar por um profissional da área. Não ouvimos falar de vários casos assim? O mais grave nessa situação é que a condição social das pessoas faz com que essa cultura de exploração doméstica seja tratada como normal ou legal, visto que há um senso comum de que “antigamente nós trabalhávamos desde cedo, porque essa moçada não pode?”. 

A sociedade avançou muita e vários mecanismos legais estão aí para proteger nossos jovens e adolescentes, vida o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e do Estatuto da Juventude sancionado em agosto do ano passado. Entretanto, qual nossa ação para enfrentar tantas mazelas nesse campo do tráfico de pessoas?



CF-2014 e a Campanha Nacional Contra Violência e Extermínio de Jovens

Desde 2009 as pastorais de juventude no Brasil estão em Campanha contra a violência e extermínio de jovens. Naquela época as pesquisas já apontavam que no Brasil estava acontecendo um extermínio da juventude de forma sistêmica e não institucionalizada através da forma como estava sendo vista a falta de política na proteção e emancipação da juventude. Era invisível. Foi só com a publicação dos Mapas da Violência organizados pelo Ministério da Justiça que os dados começaram a reforçar aquele fenômeno. Não obstante, cremos que precisamos dar visibilidade ao Tráfico de Pessoas para que possamos enfrentar o problema. Não temos como ouvir e não nos indignarmos que há ainda pessoas que não crêem que isso acontece em nosso meio. 

Assim como a Campanha Contra Violência e Extermínio de Jovens criou o Observatório da Juventude para estudar e propor ações de enfrentamento como Rodas de Conversa, Seminários, Estudos, Fóruns e se apresentar nos órgãos públicos exigindo políticas públicas de juventude para que diminuamos gradativamente a situação de vulnerabilidade de adolescentes e jovens, devemos nos apresentar para que o tema da CF-2014 não caia no esquecimento. Talvez reforçar a Rede um Grito pela Vida da Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB, seja uma boa iniciativa para não nos acomodarmos e deixemos passar a profecia no resgate da dignidade humana que esse crime rouba de todos nós, pois cada pessoa que é traficada é um ataque a minha, a sua, a nossa dignidade de seres humanos de filhas e filhos de Deus.


Texto Publicado em março de 2014 no Informativo Arquidiocese em Notícias.